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Danos Psicológicos

Blog pessoal de Bruno Ervedosa (todas as sextas, às 22:22, um miniconto creepypasta)

Danos Psicológicos

Blog pessoal de Bruno Ervedosa (todas as sextas, às 22:22, um miniconto creepypasta)

O Poço dos Sussurros

12.07.25, Bruno Ervedosa
A água no fundo do poço agitava-se, como se tentasse expulsar algo que nela se debatia. A noite estava cerrada e o som de alguém a gritar socorro ecoava entre as pedras velhas humedecidas e esquecidas do velho poço. Àquela hora, ninguém deveria andar por ali. Ninguém, exceto Miguel. Regressava a casa por um atalho de terra batida, quando ouviu os gritos. Correu atrás do som, guiado pelo instinto e por uma estranha sensação no peito. Até que chegou ao velho poço, ladeado de (...)

O Fosso

10.07.25, Bruno Ervedosa
O mundo está caótico. E não, não é uma história de terror que estou a escrever. O que antes era apenas um fosso social entre ricos e pobres, agora é um fosso alargado em humanismo. As pessoas já não se olham nos olhos. Trocam mensagens em vez de abraços, emojis em vez de compaixão. Numa paragem de autocarro, uma mulher cai ao chão. Tem um ataque, talvez um derrame. Há quem grave. Há quem desvie o olhar. Há quem comente que "isto agora é todos os dias". Mas ninguém se (...)

Entre o Passado e o Pesadelo: Visita guiada a “Uma Carta do Manicómio de Lisboa”

08.07.25, Bruno Ervedosa
Abro o envelope amarelecido com a mesma reverência com que se folheia um diário esquecido num sótão. As páginas rangem, libertando um odor a papel antigo, e de repente estou em 1877, diante de um médico que se considera racional demais para acreditar em lendas — até ao momento exacto em que ouve o primeiro gemido atravessar as paredes do palacete. Assim começa “Uma Carta do Manicómio de Lisboa”, o meu conto incluído na antologia Sonhos e Pesadelos, publicado no início (...)

Sonhos e Pesadelos: Coisas Sinistras em Casas Abandonadas

Quando a curiosidade nos leva longe demais

05.07.25, Bruno Ervedosa
A adolescência é uma fase marcada pela sede de aventura, a descoberta da liberdade e o impulso de ir além dos limites. No conto Coisas Sinistras em Casas Abandonadas, essa ânsia por viver algo novo leva três amigos a explorar uma quinta perdida no meio do bosque — uma decisão aparentemente inofensiva que rapidamente se transforma numa experiência arrepiante. Resumo do conto (sem spoilers) (...)

Entre Livros e Fantasmas: Seis Meses de Autor

03.07.25, Bruno Ervedosa
Passaram seis meses desde que publiquei o meu primeiro livro. Sei que parece pouco tempo no calendário, mas, para mim, parece que foi uma vida. As madrugadas passadas a rever vírgulas e a duvidar de cada frase, os dias em que olhava para o ecrã à espera que a inspiração caísse como chuva (chuva essa que nem sempre molhava). O que sempre me empurrou para a frente foi a minha família e a minha vontade teimosa de querer ser um autor, mas além do "aquele que publicou um livro de (...)

O Silêncio nas Bancadas

03.07.25, Bruno Ervedosa
As notícias chegaram como uma lufada gélida num dia quente de verão — brutais, surreais, impossíveis. Diogo Jota, o menino das areias de Massarelos que encantou o mundo com a bola nos pés e o coração na ponta dos dedos, tinha partido. Assim. Sem aviso. Sem tempo para despedidas. Não há palavras suficientes que consigam colar os cacos do coração de quem o amava, de quem o admirava. Mas é preciso tentar. Porque o silêncio dói mais do que o choro. Hoje, Portugal chora. Chora (...)

Millennium: Entre a Sombra do Passado e o Grito da Verdade

01.07.25, Bruno Ervedosa
A minha coleção de livros de bolso da Millennium. Falta o sétimo. A coleção Millenniumé um fenómeno literário e cultural que atravessou fronteiras e décadas, fundindo crime, política, jornalismo e trauma pessoal numa trama de tirar o fôlego. Aquilo que começou como uma trilogia negra e intensa, escrita pelo sueco Stieg Larsson, transformou-se numa saga prolongada por outros autores, em livros e no grande ecrã — e que, até hoje, continua a dividir opiniões e a fascinar (...)

A Rede dos Fantasmas do Algarve

25.06.25, Bruno Ervedosa
Entre dezembro de 2015 e junho de 2024, um grupo sombrio operava nas sombras do Algarve. Chamavam-lhe a “Rede dos Fantasmas”. Formada por cerca de vinte figuras sem rosto — vozes sussurradas em chamadas internacionais, mãos que preenchiam contratos, impressões digitais que nunca eram as suas — a rede moveu-se silenciosa como nevoeiro pela costa algarvia. Instalavam-se em bancos, académicos, repartições públicas. Alugavam escritórios, alugavam máquinas de xerox, registravam (...)

As Horas Mortas

17.06.25, Bruno Ervedosa
Acordei às 22:22. Podia começar este relato com algo mais mundano, tipo “acordei com sede” ou “o gato saltou-me para cima da barriga”, mas estaria a mentir — e a minha mãe sempre me disse que mentir dava cancros na alma. Portanto, não. Acordei com o silêncio. Aquele silêncio absoluto, insuportável, denso como o cheiro de roupa guardada numa arca durante anos. E sim, é estranho acordar com o silêncio. Quem já acordou com o silêncio? Ninguém. Porque o silêncio, na sua (...)

Treze Minutos de Silêncio

16.06.25, Bruno Ervedosa
O relógio marcava meio-dia, a 15 de abril de 2004, quando duas clientes habituais entraram no Tamber’s Trim ‘n Tan Salon, em Cumming, Geórgia, esperando encontrar Patrice Endres com o sorriso aberto e a tesoura em riste. Mas naquela tarde, o salão não cheirava a laca nem a conversa fiada — pairava um silêncio que não combinava com o lugar. O almoço ainda estava quente no micro-ondas, a mala repousava no balcão, e a chave do carro, por ali também. O próprio carro estava (...)