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Danos Psicológicos

Blog pessoal de Bruno Ervedosa (todas as sextas, às 22:22, um miniconto creepypasta)

Danos Psicológicos

Blog pessoal de Bruno Ervedosa (todas as sextas, às 22:22, um miniconto creepypasta)

Entre Livros e Fantasmas: Seis Meses de Autor

03.07.25, Bruno Ervedosa

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Passaram seis meses desde que publiquei o meu primeiro livro. Sei que parece pouco tempo no calendário, mas, para mim, parece que foi uma vida. As madrugadas passadas a rever vírgulas e a duvidar de cada frase, os dias em que olhava para o ecrã à espera que a inspiração caísse como chuva (chuva essa que nem sempre molhava). O que sempre me empurrou para a frente foi a minha família e a minha vontade teimosa de querer ser um autor, mas além do "aquele que publicou um livro de contos de terror psicológico".

Quando o livro saiu, houve alegria. Mas, também houve uma espécie de silêncio que me inquietou. Não é que esperasse foguetes ou filas de fãs para comprar o meu livro e receber autógrafos. Era mais um vazio desconcertante. Tive de aprender que, no mundo literário, só somos ouvidos quando gritamos. Tive de aprender a gritar (algo que não gosto de fazer).

Fiz e faço publicações nas redes sociais, conversas de ocasião. Até emails enviei para as redações de cultura dos noticiários (ignorado por completo). Aos poucos, com as mãos suadas e um nó na garganta, tenho construído a minha presença. Pequena, mas real.

As feiras do livro em que estive presente foram um teste. Em Lisboa, primeira vez, sentia-me uma criança sentada à mesa dos adultos. Muitas pessoas passaram, olharam, liam o título do livro, seguiam em frente. Sim, também pararam e comentaram: "será mesmo assustador" ou "para quem não tem nada para ler à noite".
Aprendi a aceitar os comentários e os "nãos", a esboçar um sorriso "Hermès". Mas, também aprendi que basta um leitor certo e tudo é diferente e que pode justificar o caminho.

Em Aveiro foi diferente. Talvez porque tinha menos pessoas ou porque a aceitação já cá estava. Pelo menos, senti que não era mais um escritor a tentar, senti-me um autor. A confiança já era diferente.

Entre uma e outra feira, foi recebendo alguns comentários de quem leu o meu livro.

  • "Quais as partes mais assustadoras para saltar à frente?";
  • "Faz-me lembrar Tom Sharpe..." (fiquei a conhecer este);
  • "Muito King".

A verdade é que ninguém nos prepara para o elogio. Somos ensinados a lidar com o fracasso, mas não com o impacto que a escrita pode ter em alguém. Comentários e opiniões como estas dão alento para mais seis meses.
Apesar das comparações com autores conceituados (ainda que exagerados na minha opinião, pois ainda tenho muito para escrever até chegar lá), são balsâmicos para as feridas e inseguranças. Porque há dias em que penso que tudo é em vão, ninguém lê, ninguém se importa, mas depois lembro-me da minha mãe dizer que só lê de dia porque de noite tem medo.

É difícil. É mesmo. Há mais silêncios do que palmas. Mais dúvidas do que certezas. Ainda assim, continuo. Continuo a escrever, a sonhar com o próximo livro, com o próximo leitor. Porque é neste mundo estranho de livros, entre terror e palavras, que encontrei o meu lugar. E só estou a começar.

Link para o meu livro: https://tinyurl.com/bdd4sjv3